Palavra

[LIVRO] Problemas globais, enfrentamentos locais e a universidade Pública / CRR Macaé – Erotildes Leal & Ruth Escudero [orgs] (2017)

LEAL, Erotildes Maria.; ECUDERO, Ruth (orgs). Problemas globais, enfrentamentos locais e a universidade pública. O centro regional de referência em álcool e outras Drogas da UFRJ Macaé e outros projetos extensionistas. Universidade Federal do Rio de Janeiro – Campus Macaé. Macaé, RJ: 2017. 380 p.

Download (2 MB) <

> Leia online <

Sumário Problemas Globais 1Sumário Problemas Globais 2Sumário Problemas Globais 3

Esta coletânea apresenta questões que atravessaram o trabalho desenvolvido pelo Centro Regional de Referência para formação de profissionais que atuam com usuários de álcool e outras drogas no SUS e SUAS* – CRR – UFRJ Macaé, projeto realizado através da parceria da UFRJ e Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas –SENAD/Ministério da Justiça. A desafiante temática das drogas como questão de saúde pública, estruturante para a construção das atividades do CRR– UFRJ Macaé, foi o eixo organizador do livro. Dois outros temas tratados aqui foram centrais para o desenvolvimento da atividade do CRR: o papel da universidade e dos projetos extensionistas.

Formar profissionais capazes de abordar a temática das drogas como questão da saúde pública, em toda a sua complexidade, a partir da universidade, mas com o olhar voltado para os territórios vivos e reais onde o fenômeno se apresenta com a força do seu colorido local, exigiu reflexão sobre o papel da própria universidade e sobre a função dos projetos extensionistas.

***

Capítulo 12: o lugar do discente na extensão acadêmica: espaço de formação e autonomia. O CRR– UFRJ Macaé – Relato de experiência.

No capítulo escrito por Maria Clarissa Silva e eu, refletimos sobre a extensão universitária enquanto espaço de formação, partindo da análise da experiência dos alunos de graduação como monitores do Centro Regional de Referência em Álcool e outras Drogas da UFRJ Macaé.

SILVA, Maria Clarissa; ARAÚJO, Sávio de. O lugar do discente na extensão acadêmica: espaço de formação e autonomia. O CRR – UFRJ Macaé – Relato de experiência. In: LEAL, Erotildes Maria; ECUDERO, Ruth (orgs). Problemas globais, enfrentamentos locais e a universidade pública. O centro regional de referência em álcool e outras Drogas da UFRJ Macaé e outros projetos extensionistas. Universidade Federal do Rio de Janeiro – Campus Macaé. Macaé, RJ: 2017. 380 p.

> Download [capítulo] (3 MB) <

_________________________________________
digitalização: arquivo virtual (original)
cor: colorido
formato: PDF (A4)
paginação: 2 páginas por folha (horizontal)
título: Problemas globais, enfrentamentos locais e a universidade pública. O centro regional de referência em álcool e outras Drogas da UFRJ Macaé e outros projetos extensionistas.
autor: Erotildes Maria Leal e Ruth Escudero (organizadoras)
editora: Universidade Federal do Rio de Janeiro
isbn: 978-85-62805-69-1
idioma: Português
encadernação: Brochura
formato: 15 x 21
páginas: 380
ano de edição: 2017
edição: 1ª

Portfólio Oficial – Amanda Amado

[Monografia] GÊNESE, CONSERVAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO PERCEPTIVA – SÁVIO DE ARAÚJO (2016)

ARAÚJO, Sávio de. Gênese, conservação e diferenciação perceptiva. O potencial inventivo da vida como via produtiva de uma Psicologia criadora. 2016. 53 f. Monografia (Bacharelado em Psicologia). Instituto de Humanidades e Saúde, Universidade Federal Fluminense, Rio das Ostras, 2016.

Download (800 KB) <

Sumário Monografia

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Psicologia do Instituto de Humanidades e Saúde do Campus Universitário de Rio das Ostras da Universidade Federal Fluminense (UFF), como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Psicologia.

BANCA

Prof. Dr. Danilo Augusto Santos Melo (Orientador)
Prof. Dr. Johnny Menezes Alvarez
Prof. Dr. Márcio Luiz Miotto

RESUMO

O presente trabalho tem o objetivo de discutir os processos de constituição da percepção a partir da leitura dos conceitos de Henri Bergson, investigando, através dos procedimentos de pintura de Francis Bacon, maneiras possíveis de manipular ativamente esse processo em prol de uma experiência sensível de criação que se diferencie daquela crivada utilitariamente por nossos hábitos e representações. Buscamos compreender ainda, por meio dos conceitos de Inteligência (Bergson) e Pensamento (Gilles Deleuze), como essas diferentes abordagens da realidade atuam nas relações do sujeito, bem como no funcionamento de suas faculdades, identificando assim o pensamento como via possível para um exercício inventivo da vida menos constrangido, o que por sua vez, torna a discussão da temática relevante para a proposta de uma Psicologia que pretenda estar em consonância com o processo criador da realidade.

Palavras-chave: percepção, Arte, inteligência, pensamento, criação, Henri Bergson, Francis Bacon, Gilles Deleuze.

_______________________
digitalização: arquivo virtual (original)
cor: preto e branco
formato: PDF (A4)
paginação: 1 página por folha (vertical)
título: Gênese, conservação e diferenciação perceptiva. O potencial inventivo da vida como via produtiva de uma Psicologia criadora
autor: Sávio de Araújo
idioma: Português
páginas: 51
ano de edição: 2016

A Escola e o Caminho da Vontade

O local: Colégio Municipal Maria Isabel. A cidade: Macaé. O convite: realizar algum tipo de intervenção abordando temas como drogas, preconceito, sexualidade e família com turmas do 5º ao 9º ano. O desafio da Coordenação Geral de Políticas sobre Drogas (CGPOD) era o de abrir caminhos e construir pontes em um momento de mudanças e reestruturação da instituição; a aposta era de fazê-lo junto com os alunos, não apenas dirigindo, mas, antes de tudo, acompanhando as falas que emergiam das turmas. A escolha foi pelo formato de roda de conversa.

facebook-cover

As apresentações eram iniciadas com os nomes e formações dos membros da equipe, tanto as formais quanto as informais — Filosofia, Música, Medicina, Assistência Social, Poesia, Psicologia, Gestão Pública, Capoeira; estes e muitos outros campos de atuação se misturam para dar vida a atuação fomentada pela CGPOD. Em seguida era contextualizada a perspectiva da Redução de Danos, abordagem que propõe uma visão ampliada do cuidado, onde, ao invés da adoção de lógicas totalizantes (tudo ou nada) como meio de resolução, o foco se dá sobre o desenvolvimento de estratégias que visam reduzir os danos causados pelo envolvimento em situações prejudiciais, de acordo com o tempo e a capacidade de cada um. É importante ressaltar que não apenas o “problema” é visto de forma ampliada, mas também as próprias estratégias para lidar com ele. Sendo assim, estas devem envolver de maneira integrada as diferentes esferas da vida do sujeito: família, trabalho, amizades, relacionamentos amorosos, ambiente escolar.

15492016_238555486579440_609321644_o

Abríamos então para a fala dos alunos, lançando os questionamentos: como andam hoje as relações na vida de vocês? Existe alguma que não esteja recebendo a devida atenção? Se houver, o que acham que poderia mudar? Nos primeiros momentos, a timidez era mais forte, mas com um pouco de persistência a vontade de pensar e compartilhar as questões que os acompanhavam falou mais alto. A partir dos relatos, pudemos perceber como questão principal o pouco diálogo entre as diferentes esferas citadas acima. Nenhuma grande surpresa até ai. O que nos deixou mais impressionados, no entanto, foi a abrangência e a profundidade da percepção deles sobre o que expressavam, mostrando que se havia algum obstáculo, este não estava localizado nos adolescentes. As peças que pareciam faltar nesse arranjo eram justamente, nas palavras de uma aluna do 8º ano, “paciência e respeito, isso que todo adolescente e jovem precisa”. Mais que isso, não apenas um espaço onde a fala deles pudesse ser validada pela escola ou pelos órgãos municipais, mas antes de tudo, por eles, entre eles. É pela criação dessa consistência de base que todo o resto pode se desenrolar. Infelizmente, a rotina e os compromissos fazem com que espaços como estes fiquem de lado. Alunos, professores e funcionários acabam por entrar em um ritmo onde há pouca abertura para momentos de desaceleração e mudança direção, o que reflete diretamente sobre o ambiente escolar.

Se a proposta era promover, antes de tudo, a mobilização dos alunos, coube abrir este espaço também para quem, de maneira independente, já se organiza em prol das próprias questões. Convite feito e aceito. O Coletivo Só Podia ser Preto, movimento macaense de jovens que busca afirmar a expressão da cultura negra através da fotografia e do diálogo, levou para a conversa o relato de experiência da formação de um grupo organizado autonomamente. Obstáculos, conquistas, desvios. Muitas das situações vivenciadas pelos participantes puderam ser compartilhadas e trocadas. O objetivo aqui, era de mostrar, por meio de um trabalho que já acontece e que vem ganhando território, que iniciativas como aquela são possíveis, cabendo a cada diferente coletivo a responsabilidade de analisar suas questões e desenvolver ua organização própria para dar conta delas. Aquele era um exemplo, a instigação foi: como então seria possível promover mudanças a realidade de vocês e da escola?

img_0012

E se falamos aqui em qualquer tipo de mudança não se trata de uma adequação a um modelo pronto ou de excelência onde tudo seria perfeito. O caminho é o inverso: a partir das demandas específicas da escola é que serão elaboradas saídas produzidas artesanalmente para aquela realidade, trajeto esse que não deixa de fora as controvérsias e as questões difíceis, pois é justamente falando abertamente sobre elas que se pode construir uma abordagem que não esconde a necessidade, se houver, de mudar. Se há um direcionamento, ele se encaminha para a saúde. Mas não uma saúde entendida como falta de doença ou como excesso de remédios e hospitais, uma saúde também ampliada, que se encaminha para a produção de ambientes que potencializem a expressão própria de cada sujeito sem abrir mão da coletividade.

Considerando o pouco tempo proporcionado pelo curto e disputado cronograma de final de ano, como poderíamos realizar um fechamento que expressasse as várias experiências criadas naqueles encontros e que, ao mesmo tempo, tivesse a “cara” de todos os envolvidos? Nos valendo do que inicialmente se mostrou um obstáculo, o fim de ano, surge uma proposta: registrar os alunos participantes em forma de fotografia e organizar uma exposição no evento de encerramento do colégio, que aconteceria no Teatro Municipal de Macaé. O Coletivo Só Podia ser Preto ficou responsável pelo registro das fotos e a CGPOD, junto à escola (que aqui inclui direção, orientação pedagógica e professores), articulou os horários e demais recursos.

15419438_238555569912765_793663290_o

Como podemos avaliar a eficácia dessa ação? Acreditamos que, assim como na produção, o fechamento só pode ocorrer com a participação de todos. E mais ainda que uma avaliação, que se torna imprescindível para dar consistência e legitimidade técnica, é pela reverberação afetiva que um trabalho bem executado tem sua confirmação. E assim ocorreu. Pudemos perceber que já no segundo, e último, encontro com cada turma, todos os alunos já se mostravam à vontade para se colocar de forma mais relaxada, ficando mais integrados à roda, apropriando-se daquele espaço e tornando cada vez mais interessante a ideia lançada de realizar reuniões para que cada turma formule e reivindique suas prioridades de forma organizada. Muitos, em um outro momento, vinham nos falar sobre a vontade de desenvolver alguma atividade que tinham interesse e também sobre como repensaram alguns aspectos das próprias vidas. Houve também um questionário onde eles puderam escrever desde os sentimentos vivenciados durante os encontros, até sugestões para um futuro retorno da equipe. Nestes papéis, carregados de afetos, foi possível perceber claramente a potência de transformação de uma ação como esta. O “papo reto” e abordagens de temas “que ninguém quer falar” foram falas recorrentes.

15537036_240709816364007_1021219793_o

15595581_240709796364009_1362322429_o

Foi pela prática que vimos o potencial daquele espaço se desdobrar e mostrar dimensões ainda não acessadas plenamente pelos que ali habitam. Todos os encontros só reforçaram a visão sobre o ambiente escolar como lugar fundamental de problematização de todos os temas sociais, é um espaço de formação de conhecimento, é um espaço de produção de vida. Apostamos em ações como estas, que integrem esferas cada vez mais abrangentes e heterogêneas do campo social, levando autonomia para cada local por onde passe. Acreditamos no serviço público como mediador de potencialidades já existentes nesses locais. Trata-se de uma forma de fazer e pensar que, além dos baixos custos de execução, requer um recurso simples e fundamental: vontade.

[Livro] O Avesso do Niilismo: Cartografias do Esgotamento – Peter Pál Pelbart (2013)

o-avesso-do-niilismo

PELBART, Peter Pál. O Avesso do Niilismo. São Paulo; N-1 Edições, 2013.

 > Download (80 MB) <

Sumário Avesso do Niilismo

Scan do livro “O Avesso do Niilismo”, de Peter Pál Pelbart. Destaque para a capa sensível onde impressão das mãos é registrada e, aos poucos, se esvanece (como pode ser visto no GIF acima). No PDF, linkados todos os títulos e subtítulos no formato de sumário que pode ser acessado através do leitor do arquivo. Segue a baixo uma pequena descrição da obra e suas informações técnicas.

Afinal, do que é que estamos tão esgotados, hoje? Inspirado em um vasto leque de autores, de Musil a Blanchot, de Deleuze a Agamben, de Jünger a Sloterdijk, mas também apoiado em experiências-limite extraídas de Deligny ou de algum trabalho esquizo-cênico, o livro que o leitor tem em mãos apresenta indícios, mesmo fugidios, de um deslocamento em curso. De quem? Do quê? Em qual direção? Não sabemos ao certo. É preciso imaginar uma cartografia do esgotamento que fosse uma espécie de sintomatologia molecular, como em Beckett. 

Aqui, figuras extremas como esgotamento, desastre, catástrofe, e mesmo caosmose, tangenciam pontos de afundamento onde aparecem, paradoxalmente e ao mesmo tempo, os contramovimentos do presente. É nesses pontos de inflexão que se insinuam, de maneira às vezes imperceptível, os contragolpes minúsculos, mas também as explosões multitudinárias que denunciam o que caducou (valores, estilos, problemas), ao mesmo tempo em que deixam entrever novos desejos e necessidades.

_______________________
digitalização: 300 dpi
cor: preto e branco
formato: PDF (A4)
paginação: 2 páginas por folha (horizontal)
título: O AVESSO DO NIILISMO: CARTOGRAFIAS DO ESGOTAMENTO
autor: Peter Pál Pelbart
editoran-1
isbn: 9788566943030t
idioma: Português
encadernação: Brochura
formato: 15 x 21
páginas: 592
ano de edição: 2013
edição: 1ª

Poesia e Cidade: Macaé

2000px-Bandeira-macae.svg

Nos últimos encontros do sarau macaense “Língua do P”, por conta da proximidade do aniversário de 203 anos da cidade, aconteceram diversas discussões sobre o papel das relações estabelecidas com a cidade na vida de seus moradores e na obra dos poetas contemporâneos. Partindo daí, houve uma proposta coletiva de produzir poesias que tivessem a cidade, e as múltiplas e heterogêneas relações que cada um tem com ela, como matéria de trabalho.

Na última terça (26) ocorreu o encontro. Como alguém relativamente “novo”, foi muito interessante poder ouvir relatos daqueles que ali estavam, isso porque foi possível perceber que, as relações produzidas por alguns daqueles que falavam, não passavam apenas por uma habitação ou uso da cidade (no sentido mais literal do termo) mas, de fato, por um esforço constante e ininterrupto por fazer com que os modos de existência nela, sejam mais alegres e pulsantes.

20160726_185057

Gerson Dudus e Sandra Wyatt compartilharam inúmeras histórias sobre a produção artística da cidade. O “Varal de Poesias” foi um exemplo. Na década de 80, os artistas da cidade se juntavam para expor suas poesias em um varal que era alocado na praia dos Cavaleiros. Ali, todos que passavam podiam entrar em contato com as produções que versavam sobre as mais variadas temáticas, dentre elas, crítica e discussão sobre os acontecimentos da época. Seu papel social era de dar suporte e servir como vitrine para a expressão de todo o tipo de pensamento. O que tornou o Varal alvo de ataques constantes que inviabilizavam o seu funcionamento. Em uma época onde as redes sociais eram uma promessa distante, havia a necessidade de um engajamento mais pungente para fazer uma iniciativa como esta funcionar, por outro lado, a mesma necessidade se colocava até para os movimentos que visavam seu desmantelamento, afinal, arrancar estacas de madeira fincadas na terra no meio da noite, demandava um trabalho muito maior do que escrever comentários no Facebook.

20160726_193546

Uma das páginas do varal.

Uma das questões mais importantes foi perceber que produções como essas se ligam estreitamente com a luta social, e mais especificamente em Macaé, com a luta ambiental. O relato sobre como um pequeno grupo de artistas-ambientalistas juntamente com professores e alunos do Núcleo em Ecologia e Desenvolvimento Sócio-Ambiental de Macaé (NUPEM/UFRJ) conseguiram vetar a aprovação do porto que seria instalado recentemente na área do bairro do Barreto, foi quase literário. Foi por uma insistência de alguns poucos, provavelmente não conhecida por muitos além daqueles que participaram do processo e dos que agora leem esse texto, que um grande empreendimento, portador de claras e previsíveis consequências nocivas ao meio ambiente onde se instalaria, foi barrado (no mesmo momento também foi informado que a licença prévia para o início das atividades de um novo porto já foi liberada sem sequer uma audiência).

PhotoGrid_1469936250203

“Imbetiba” de Sandra Wyatt .Do livro de poetas macaenses “Quem Canta Macaé”.

Não é de hoje que sabemos o quanto Macaé — possuidora de uma variedade de territórios, geografias e ecossistemas: serra, mar, lagoa, floresta, restinga, mangue, dentre outros; variedade essa muitas vezes despercebida pelo os que aqui habitam — luta contra a ocupação de uma lógica de trabalho e exploração que não inclui de maneira consistente, em seu processo de desenvolvimento, o cuidado com a cidade onde se coloca. Não simplesmente uma cidade enquanto espaço físico, soma de habitantes ou estatuto legal, mas uma cidade pensada enquanto espaço intensivo, enquanto espaço que é palco do investimento do desejo de seu moradores, desejo esse direcionado aos mais diferentes meios: trabalho, lazer, alimentação, moradia, cuidado etc.  Saber que há pessoas engajadas na melhoria da construção desse espaço é fundamental para criar relações que potencializem as nossas próprias vidas e daqueles com os quais convivemos.

PhotoGrid_1469935337171PhotoGrid_1469935084826

Assim, compartilho aqui a poesia que fiz para a ocasião, mas que não se limita a ela, diz repeito a qualquer movimento que busca autonomia e, como dito anteriormente, alegria.

_________________________________

M.A.C.A.É


vejo
muito olhos
juntos
fazendo de tudo
para ver
o que empurram
morro acima
das goelas
das ruas macaenses

e porque estão juntos
do que os engasga
não conseguem ver
o que desafoga

o trânsito
o motor do carro
o fluxo

ininterrupto

de cortes
ocasionados
por estragos
ainda não repensados
por quem
não entende disso aqui

esses olhos
que essa terra há de tentar fuder
ainda tem olhos
para outras coisas tantas

que fazem cair
outro tipo de lágrima

sentida por quem
pega na mão

das coisas que produz
dos nomes que conhece

das festas
feitas
para festejar

das praias
inundadas
pelo mar

da mudança
efetuada
por coragem

dos beijos
dados
por vontade

essa cidade
um hotel
chega de camareiras
um local pertence
a quem arruma a própria cama

_________________________________

Por fim, deixo também a música “Feliz Cidade” do cantor e compositor Chico Brant (a qual conheci durante o sarau), que também fala, agora em outro tipo de poética, sobre a cidade.

 

ELEMENTOTEXTO (ou remix textual)

ELEMENTOTEXTOlogo

No fim de 2012, iniciei um projeto literário que ficou pelo caminho. “ELEMENTOTEXTO” surgiu em um momento de pesquisa intenso sobre questão do remix. Tudo começou no primeiro (ou segundo) semestre da universidade quando o então professor substituto, Roberto Preu, apresentou em sala o documentário “RIP!: Um manifesto Remix”. Como o próprio nome sugere, trata-se de um documentário que busca fazer um levantamento sobre a prática do remix , suas implicações para a produção social da arte e sua relação com a memória, a lei e a questão da autoria. Muitos desdobramentos surgiram desde então, cabendo para isso outras postagens melhor direcionadas para o tema.

O blog do projeto ficou parado, mas ainda ativo para o caso de algum desavisado topar com ele pela web. Se puder ser resumido em uma frase, seu intuito é: realizar o remix com elementos textuais de qualquer ordem. A matéria-prima (os elementos) vem sempre dos autores e obras lidas no período de criação de cada constructo que chamei de elementotexto.

O esquema é simples, todas as montagens são feitas apenas com citações diretas de outros textos, qualquer tipo de texto pode entrar em uma montagem, filosofia, publicidade, um ditado, letras de músicas, biologia, falas de filmes etc.

Como será possível perceber não se trata de uma construção muito simples, visto que, busco retirar cada trecho da obra exatamente como ela está, o que demanda uma busca minuciosa por orações que componham sentido semântico e concordem gramaticalmente entre si. Assim, sua produção demanda um certo tempo e pesquisa, o que, entre outros fatores, acabou contribuindo para seu abandono (até agora) temporário. A ideia inicial era fazer dele o próprio trabalho sobre o qual me debruçaria no campo da palavra, contudo, ao abrir este blog e rever alguns dos projetos deixados de lado, ficou claro que, ao menos para mim, ele se destinaria a compor um estilo menor, um subgênero dentro do que escrevo. Por isso, os elementostextos voltarão a se produzir com a infrequência demandada por seu ritmo de produção. Com alguma sorte e persistência, espero que eles possam ganhar progressivamente mais consistência. Por enquanto, serão postados os já feitos.

///

borges-pessoa-proust-lembrança-memória-percepção-sonho

Pesadamente incorpóreo, estagno, entre o sono e a vigília, num sonho que é uma sombra de sonhar. Minha atenção bóia entre dois mundos, sustenta em círculo, a seu redor, o fio das horas, a ordenação dos anos e dos mundos e vê cegamente a profundeza de um mar e a profundeza de um céu; e estas profundezas interpenetram-se, misturam-se, e eu não sei onde estou nem o que sonho. Rostos que na verdade são máscaras, palavras de linguagens muito antigas, num segundo, eu passava por sobre séculos de civilização. Coexistem na minha atenção algemada as duas realidades, como dois fumos que se misturam. E quem é esta mulher que comigo veste de observada essa floresta alheia? Eu sonho e por detrás da minha atenção sonha comigo alguém. E talvez eu não seja senão um sonho desse Alguém que não existe. O movimento parado das árvores; o sossego inquieto das fontes; o hálito indefinível do ritmo íntimo das seivas; o entardecer lento das coisas, que parece vir-lhes de dentro a dar mãos de concordância espiritual ao entristecer longínquo. Ali vivemos um tempo que não sabia decorrer, um espaço para que não havia pensar em poder-se medi-lo. Um decorrer fora do tempo, uma extensão que desconhecia os hábitos da realidade do espaço. A nossa vida não tinha dentro. Éramos fora e outros , serei todos ou ninguém. Serei o outro. Recompunha aos poucos os traços originais do meu próprio eu. Assim acordava, meu espírito agitando-se para tentar saber, sem o conseguir, onde me encontrava, tudo girava ao meu redor no escuro, as coisas, os países, os anos. Meu corpo, entorpecido demais para se mexer, buscava, segundo a forma do seu cansaço, localizar a posição dos membros para daí deduzir a direção da parede, a situação dos móveis, para reconstruir e denominar a moradia em que se achava. Sua memória, a memória de suas costelas, dos joelhos, dos ombros, lhe apresentava sucessivamente vários quartos onde havia dormido, ao passo que em seu redor as paredes invisíveis, mudando de lugar conforme o aspecto da peça imaginada, giravam nas trevas. Essas lembranças não eram simples; cada imagem visual estava ligada a sensações musculares, térmicas, etc. Podia reconstruir todos os sonhos, todos os entresonhos. A verdade é que, devido à essas evocações turbilhonares e confusas, ao eterno estar no bifurcar dos caminhos, mais lembranças tenho eu do que todos os homens tiveram desde que o mundo é mundo.

___________
ELEMENTOS:

1. BORGES, Jorge Luis. Funes, o Memorioso. Trad. Marco Antonio Franciotti. In:______. Prosa Completa. Barcelona: Ed. Bruguera, 1979, vol. 1., p. 477-484.
2. ______. O sonho. In: ______. Poesia. São Paulo: Cia das Letras, 2009, p.166.
3. PESSOA, Fernando. Floresta do Alheamento. In: ______. Richard Zenith (org). Livro do Desassossego. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 466-472.
4. PROUST, Marcel. No caminho de Swann. Trad. Fernando Py. São Paulo: Abril, 2010, Clássicos Abril Coleções, v.34.